Bonito, Mato Grosso do Sul - 19 de Abril de 2024
Meio Ambiente

Embrapa promove agricultura que dispensa uso do fogo na Amazônia

Roça sem Fogo é uma tecnologia que favorece especialmente os agricultores familiares, pois dispensa o uso de máquinas agrícolas e pode ser aplicada apenas com ferramentas manuais, como a foice, o machado, o facão e a motosserra.

Com informações de Embrapa
Em 13 de Fevereiro de 2020 às 13h46
(Divulgação)

O livro Roça sem fogo: da tradição das queimadas para a agricultura sustentável na Amazônia – a mais nova produção editorial da Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA) – reúne artigos sobre um processo tecnológico que substitui o uso do fogo para fins agrícolas e, por extensão, diminui o risco de incêndios florestais decorrentes de queimas feitas sem os devidos controle e acompanhamento.

O uso do fogo na agricultura é uma tradição milenar na Amazônia, originada nos tempos pré-colombianos, com os antepassados dos atuais indígenas. Na atualidade essa prática não é mais sustentável, embora ainda seja utilizada como opção barata e rápida de limpeza e preparo do solo antes do plantio.

“Reproduzida sem a escala e os cuidados dos indígenas que dominavam o seu uso, a queimada se tornou um problema ambiental, inclusive uma das causas do aquecimento global”, afirma o engenheiro-agrônomo Raimundo Nonato Brabo Alves, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), editor técnico e um dos seis autores da coletânea recém-lançada.

O pesquisador conta que o vácuo tecnológico entre a agricultura moderna e a agricultura de derruba (corte) e queima na Amazônia trouxe um grande desafio à comunidade científica e aos produtores: encontrar um modo sustentável de substituir as queimadas.

“As pesquisas e estudos dos processos de transição para agricultura sem queima na Amazônia continuam, mas a Embrapa, como grande geradora de tecnologias para reduzir o uso do fogo na agricultura brasileira, já disponibilizou à sociedade várias tecnologias desenvolvidas com esse intuito”, salientam os autores da obra. Do livro constam artigos já publicados, mas há capítulos inéditos, como o que trata da trajetória da civilização do fogo na Amazônia. O conteúdo pode ser acessado gratuitamente no Portal Embrapa .

Roça sem Fogo

Uma das alternativas às queimadas desenvolvida com sucesso por pesquisadores da Embrapa em estreita parceria com os produtores é a Roça sem Fogo, que dispensa o uso de máquinas agrícolas. De fácil adoção, aplicável a culturas anuais e perenes, esse método de preparo de área registra diversos ganhos nas esferas social, econômica e ambiental quando comparado a práticas que se utilizam do fogo em alguma etapa do processo de cultivo.

A relação custo-benefício positiva que resulta da adoção da Roça sem Fogo foi testada e validada por meio de experimentos científicos instalados e acompanhados nos municípios paraenses de Moju (onde a tecnologia foi gerada), Acará, Abaetetuba, Baião, Cametá, Vigia, Mãe do Rio, Tomé-açu, Ourém e Irituia.

A metodologia tem inúmeras vantagens em relação ao sistema tradicional, conforme demonstram os indicadores de rendimento e financeiro publicados no livro. Bem diferente do que ocorre na agricultura com queima, o conjunto de benefícios da Roça sem Fogo permite o aumento da produtividade das culturas e torna viável que uma mesma área seja cultivada por mais tempo.

“No sistema tradicional, o constante uso do fogo, em médio prazo, diminui a fertilidade do solo a níveis críticos, situação que compromete a capacidade produtiva da terra e custa caro ao pequeno produtor rural, pois será preciso providenciar a correção imediata do solo”, explana o engenheiro-agrônomo Moisés Modesto, analista da Embrapa, também editor técnico e coautor da coletânea.

De acordo com Modesto, Roça sem Fogo é uma tecnologia que favorece especialmente os agricultores familiares, pois dispensa o uso de máquinas agrícolas e pode ser aplicada apenas com ferramentas manuais, como a foice, o machado, o facão e a motosserra.

Os autores do livro destacam outras vantagens, como a manutenção da fertilidade do solo (possível porque a matéria orgânica é mantida na terra por meio de cultivos em diversos arranjos espaciais, inclusive com a introdução de plantas acumuladoras de biomassa); a possibilidade de aproveitamento do material lenhoso para a produção de energia; e a menor ocorrência de plantas daninhas em comparação ao sistema de derruba e queima.

Políticas públicas

Moisés Modesto adverte que, por si só, a existência de um processo tecnológico como o Roça sem Fogo, já validado, com custo-benefício positivo, não basta para quebrar o paradigma do fogo na agricultura.

Os autores têm a expectativa de que o livro desperte a atenção do poder público para que a tecnologia da Roça sem Fogo possa se transformar em incentivo à agricultura sem queima na Amazônia, reduzindo, assim, as consequências e implicações negativas constatadas na agricultura de derruba e queima arraigada na região.

“A Roça sem Fogo é uma prática de desenvolvimento sustentável, uma tecnologia ambientalmente ajustada, economicamente viável e socialmente justa. Precisamos que chegue amplamente ao campo, como um marco de mudança de paradigma de uso da terra na Amazônia, incentivada por políticas públicas e mecanismos que facilitem sua difusão e a capacitação intensiva de estudantes, técnicos e agricultores”, finaliza Moisés.

Outros quatro engenheiros-agrônomos da Embrapa Amazônia Oriental são coautores do livro: Alfredo Kingo Oyama Homma, Antônio José Elias Amorim de Menezes, José Edmar Urano de Carvalho e Otávio Manoel Nunes Lopes, este já aposentado.

Além dos produtores, foram parceiros dessa pesquisa o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e secretarias de agricultura de todos os municípios envolvidos no projeto.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Últimas notícias em Meio Ambiente
VER TODAS EM MEIO AMBIENTE
Notícias em destaque agora
Política de Conteúdo
O objetivo do Bonito Notícias é divulgar notícias, reportagens, entrevistas, eventos e outros conteúdos variados direcionados ao público de Bonito e demais regiões de Mato Grosso do Sul, assim como para leitores de outras regiões do Brasil e exterior. Para a construção dos textos usamos informações próprias, releases de assessorias de imprensa, internet, revistas, artigos e contribuições do público, imagens próprias e imagens de divulgação. Todas as fontes, créditos, e marcas d'água tanto de textos ou fotos são devidamente creditados. Caso você seja autor e se sinta prejudicado por qualquer foto/imagem ou texto publicado, entre em contato por e-mail e prontamente faremos a remoção.