Relatório exige medidas urgentes para evitar o avanço do aquecimento global. (Divulgação/WWF)
O Relatório Especial do Painel Intergovernamental (IPCC) foi divulgado nesta quinta-feira (08) na Coréia do Sul e analisa as perspectivas de limitar o aquecimento global a 1,5 °C em relação ao Período pré-Industrial e destaca a necessidade crítica de uma ação climática urgente. Aprovado por 195 governos, o documento evidencia as oportunidades que o mundo têm para sair do crítico caminho de aquecimento global.
Esse relatório é o texto científico mais relevante sobre a mudança climática e deve orientar a tomada de decisões dos governos no aprimoramento de seus compromissos climáticos nacionais em relação ao Acordo de Paris.
Ele esclarece que um cenário de 1,5 °C é mais seguro que 2 °C em termos de impactos climáticos, e que a permissão de que as temperaturas globais subam 2 °C acima dos níveis pré-industriais terá consequências ainda mais devastadoras, incluindo a perda de hábitats naturais e de espécies, a diminuição de calotas polares e o aumento do nível do mar, o que impactará a nossa saúde, nossos meios de subsistência, nossa segurança humana e nosso crescimento econômico.
As emissões atuais levarão à quebra de inclinações, causando impactos irreversíveis, que serão fatais para as pessoas, nosso meio ambiente e nossa economia, com potencial de nos levar a limites onde é impossível se adaptar. Atualmente, muitas comunidades já estão sofrendo as consequências negativas de perdas e danos.
Segundo o Dr. Stephen Cornelius, conselheiro-chefe do WWF internacional sobre mudança climática, as negociações duras já eram esperadas no relatório e as promessas dos países de reduzir a emissão de gases estão longe de limitar o aquecimento global a 1,5 °C.
Cornelius chamou atenção para a urgência dessas ações: “Cada semestre é importante para as pessoas e para a natureza - esta é a realidade do nosso mundo em aquecimento. Sem cortes rápidos e profundos nas emissões de carbono, enfrentaremos impactos mais severos nos ecossistemas, desde os recifes de corais ao gelo marinho do Ártico e mais vida selvagem em risco”.
O documento destaca que as promessas existentes sob o Acordo de Paris não são suficientes para limitar o aquecimento a 2°C, muito menos 1,5°C, e quanto mais o combate às emissões são atrasados, maiores os impactos climáticos - alguns até irreversíveis - e mais caras serão as soluções.
O relatório do IPCC para análise do público foram encomendados pelos governos após a conferência da ONU em Paris em 2015, quando foi decidido limitar o aumento na temperatura média global a bem abaixo dos 2°C acima dos níveis pré-Industriais, colocando esforços para que esse aumento fique em menos de 1,5°C.
Impactos no Brasil
O diretor executivo do WWF-Brasil, Mauricio Voivodic, afirma que o relatório reforça a importância do Brasil intensificar a implementação de ações concretas que diminuam a emissão de gases de efeitos estufa, e não ir na contramão do Acordo de Paris, como têm feito de forma recorrente: “Há pouco mais de uma semana, deputados de Rondônia acabaram com mais de meio milhão de hectares de áreas protegidas na Amazônia. Isso é uma abertura para o desmatamento ilegal, perda de biodiversidade e um passo contrário ao que nos comprometemos nas Conferências de Clima. O Brasil é um dos principais atores nas negociações internacionais climáticas da ONU, e precisamos aumentar a ambição das nossas metas para garantir o limite de 1,5ºC ao invés de não cumprirmos aquelas que nós mesmos já estipulamos”.
Ele também enfatiza o importante papel de cada pessoa nessa luta por um futuro de baixo carbono: “Nossas escolhas e hábitos, como diminuir o desperdício de alimentos dentro de casa, um consumo mais consciente, incentivando o comércio local e com produção mais responsável, com a economia de água e energia. Tudo isso faz parte. Mas também é importante que cada cidadão se lembre que a gestão pública, representada pelos candidatos em que acabou de votar, precisa ser cobrada por políticas mais firmes contra o aquecimento global”.
Ainda segundo o relatório, a Amazônia, que já perdeu 20% de sua área original e enfrenta o perigo de se transformar parcialmente em savana em conseqüência do aquecimento global. Outras regiões do Brasil também seriam afetadas: a região Nordeste pode perder manguezais e ter suas fontes de água secas, transformando-se de território semi-árido em terra árida. No Sul, o aumento de precipitações pode obrigar a adaptação às populações.
Mas o próprio órgão reconhece sua dificuldade em lidar com as chamadas "questões regionais", isto é, em avaliar o efeito da mudança climática sobre uma ou outra região específica. No caso brasileiro, por exemplo, a falta de dados limitou o esboço dos alertas.
O perigo para a Amazônia é mencionado de passagem em trechos do relatório. Já em entrevistas com jornalistas, os cientistas disseram que entre 10% e 25% da floresta poderia desaparecer até 2080, dependendo de quanto for a elevação da temperatura. Por falta de dados, o grupo só pôde conferir uma probabilidade de 50% a esse evento, o que na classificação do IPCC significa "mais provável que improvável".
Um dos modelos mais catastróficos analisado pelo IPCC, elaborado pelo Hadley Centre, mostra o ecossistema desaparecendo completamente até 2080. O desmatamento, um dos principais motivos do desaparecimento, é amplamente atribuído por ambientalistas a grileiros, fazendeiros de gado e plantadores de soja, acusados de forçar a expansão da fronteira agrícola para áreas virgens da floresta. O desflorestamento é a segunda maior causa de emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, respondendo por 17,3% das emissões, segundo o IPCC. A primeira causa é a queima de combustíveis fósseis (56,6%).
Os países são encorajados a anunciar seus compromissos revisados no Diálogo de Talanoa na 24ª conferência de partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP24), que será realizada em dezembro em Katowice, Polônia.